Eu mereço...
Hoje vi na mesa do colega de trabalho P (que a nível de detalhamento tem idade pra ser meu pai) o Ensaio Sobre a Cegueira, do Saramago. Me sentindo menos só nesse ambiente onde poucos cultivam o hábito da leitura, resolvi puxar assunto:
L: Tá lendo esse livro? É muito bom!
P: Comecei esses dias, tô gostando bastante.
...
P: Como é em português de Portugal tem umas coisinhas meio diferentes, né?
L: É, no começo a gente estranha a diferença nas escolha de palavras, mas rapidinho acostuma.
P: Mas não é só isso; parece que em Portugal não se usa ponto no fim das frases. Só no fim do parágrafo.
L: ???????
P pega o livro e mostra pra L. As frases todas terminam com uma vírgula, e a frase seguinte inicia à maneira tradicional, com letra maiúscula. Os parágrafos terminam num ponto. Não lembrava que o livro era assim. Nisso, a conversa atrai C., que trabalha logo ali ao lado e já está achando estranho aquielas frases com vírgulas. Tentei um:
L: Ah, é o estilo do autor. Ele escreveu o livro assim.
P: Acho que não. Acho que a regra em Portugal é essa.
C: Mas você acha que ele escreveu o livro FORA da norma culta?
senti que a moça estava angustiada.
L: Claro! Vários autores fazem isso.
C: Que coisa estranha, escrever errado! Não gosto disso não...
L: Ah, eu até curto, se tiver alguma intenção. Se for só por escrever errado não.
P: Não deve ser isso não, acho que em Portugal é assim.
C: Também acho...
Será que eu choco eles com um texto ArnaldoAntunesPauloLeminskyMelamedSafranFoerPauloCuenquiano?
2 Comments:
diálogos do saramago sempre confundem... uma vez o marco me escreveu um pedaço de uma cartinha sem pontos, só com vírgulas e desenhou um saramago...
às vezes eu perco até a vontade de falar nessas situações... mas a gente parece que não desiste de tentar se encontrar no meio dos outros =)
E amo as virgulas do Saramago! E como me disse q eu nao posso parar de ler.
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